quinta-feira, 22 de julho de 2010

Brasil com Z

Que Tem a Carta de Mbiracê

          Meu amado pai,


Hoje faz muito sol que aqui é aí. Meu marido está em frente de mim escrevendo também uma carta para o senhor porque há novidades e ele as vai contar. Vou achando tudo aqui muito curioso mas não acerto com isso de comer com fargos. Quando chegamos ri muito de ver tatna gente de cara barbada mas o que mais me espantou foram homens e mulheres que são cobertos de uma tintura preta e estes servem os que têm a cara pálida e todos andam sempre com roupa mesmo quando há calor e isso me parece muito muito tolo. Os homens daqui têm apensa uma esposa e desconfio que fazem assim porque são fracos e não conseguiram agradar a duas mulheres. São muito bonitos de se ver uns veados sem chifres que há por cá e nos quais os homens vão montados. Seu nome é cavalos e têm de diferente dos nossos veados rabos mais compridos e um cabelo repartido que cai pelo pescoço a que chamam crinas. Animais também engraçados são uns que chamam touros que são grandes como duas antas juntas e têm cornos em forma de meia-lua e às vezes os naturais os soltam em caminhos estreitos e põem-se a correr na frente deles e isto me parece pouco pouco inteligente pois se têm medo deles não deviam soltar. Há algumas ocas muito muito grandes e mais fortes que as nossas e há outras pequenas onde moram muitos e quando Tupã manda chuva de trovões elas desmancham. Aqui há poucas poucas árvores e acho que é por isso que levam tantos arabutãs de nossa terra. Já gente há muita como se fosse dez ou mais de nossas tabas. O cheiro desse lugar é tão ruim quanto o do naritataca e há umas mulheres que ficam num lugar chamado Ribeira e recebem moedas para se deitarem com os homens e isto deve ser muito bom porque variam o marido e ainda ganham por isso. Perguntei a Francisco se poderia ficar com elas e ele gritou-me e disse que nunca mais pedisse uma coisa dessas mas não entendi por quê.
Tenho mais para contar, mas faço isso outro dia. minha barriga dói de tanta vontade ver minha mãe e Sarapopeba e Nhengatã e Jababa.


Da sua filha preferida,
Mbiracê

*Texto extraído do livro Terra Papagalli, de José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta

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