
Do amor, da liberdade
Era de beleza inconteste. Alta, feição decidida, linda. É daquelas por que vale a pena qualquer esforço. Não se viam muito, mas sempre que podia ele subia os mais de 7000 km até a residência dela, e ia ao seu encontro, fazer o que sempre faziam, simplesmente contemplar. Ele contemplava ela, que contemplava o céu. Sempre dizia que ela parecia querer alcançá-lo. Ela não sabia o quanto significava para ele. Acima de tudo, era a representação máxima de seu ideal de vida. Ele a via como uma rainha, de coroa e tudo, uma santa, de deusa do olimpo, vestindo seu manto sagrado e, melhor do que isso, possuía a chama do amor, tinha-na em mãos, era o seu ideal. O seu ideal de liberdade. Eis que certa vez, viajou para outro lugar, não a visitou, mas ia, depois que resolvesse o que tinha para fazer do outro lado do país. "Mas o amor é forte demais", foi o que pensou, quando o avião teve que mudar de rota, completamente, para o lado oposto. Começou a ir em direção a ela, à sua morada. Não acreditava no que via, era ela, podia vê-la lá do alto. Ele pensava, "alcancei o céu, agora vou trazê-lo pra ti." Amou-a e olhou-a até o último instante, até a colisão, até ser privado de amá-la. E ela nunca soube que ele estava neste vôo, nem do seu amor, nem de nada, não podia amar, não era nada a não ser uma estátua em Nova York. Mas se vivo fosse, ele poderia jurar ter visto uma lágrima escorrer da Estátua da Liberdade.
Às vítimas do atentado de 11 de setembro de 2001, que foram privadas de amar em vida, pois homenagens não precisam ser feitas em data certa. Servem para resgatar a vida, e não para relembrar a morte.